terça-feira, 2 de agosto de 2011 |
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A área da fitoterapia chinesa é frequentemente mal compreendida no Ocidente
devido á escassez de material bibliográfico que trate o assunto com a
profundidade necessária, tendo esta uma estrutura complexa não é raro
depararmo-nos com erros básicos devido a uma má interpretação das suas regras
gerais.
Uma fórmula
fitoterápica chinesa poderá englobar seis ou mais plantas e cada uma delas com
objetivos bem definidos, que vai desde impedir efeitos colaterais indesejados a
encaminhar os agentes principais ao local da doença. Fitoterapia literalmente
quer dizer, terapia através das plantas, é conhecida na china há cerca de três
mil anos, época em que os livros eram escritos em pergaminhos, casco de
tartaruga e seda. Mas a informação contida nesses registros mais antigos não
fazem referência ás plantas, mas registam os nomes de doenças, orações e outros
métodos para as curar.
Em 1973 a
descoberta de 14 livros médicos clássicos em Chang-She, província de Hunan, trouxe alguns dados sobre o início
da medicina herbária chinesa. Estas fontes mencionam 52 doenças 283 prescrições
e 247 de plantas incluindo: alcaçus, scutellaria, atractylodes, cnidium e
muitas outras ainda utilizadas atualmente. Muitos outros livros médicos
clássicos, foram escritos antes da época de Cristo mas parece que só Shan Hai Ching sobreviveu. Escrito em
duas partes, Shan Ching data de cerca
de 250 a.C. e Hai Ching de 120 a.C.
Ambos descrevem 250 plantas e animais, dos quais apenas 68 são usadas como
medicinais 47 de origem animal e 21 de origem vegetal incluindo a canela,
angélica, gambir, platycodon, peônia, jujuba etc.
De acordo com a
lenda, após experimentar várias plantas, Shen Nung, o fundador da
Medicina Herbária chinesa, escreveu o
livro “Shen
Nung Pen Tsao Ching”. O livro
sobrevive numa cópia feita por Tao Hung – Ching por volta de 500 anos d.C. e
relaciona 365 ervas.
Duzentos anos
depois, Su Ching compilou “Hsin Hsiu Pen Tsao”, baseado no original Shen Nung Pen Tsao. Contendo
850 substâncias medicinais em 27 volumes, este livro, popularmente conhecido
como Tang
Pen Tsao, representa a farmacopeia mais antiga oficial no
mundo. Em 739 d.C., Chen Chang-Chi da Dinastia Tang suplementou posteriormente
o texto, chamando-o de Pen Tsao Shih. Durante a Dinastia Sung, Liu Han por
ordem do Imperador, reviu as obras Hsin Hsiu Pen Tsao
e Pen Tsao Shih, resultando dessa revisão a publicação do livro Kai Pao Pen Tsao em 973 d.C. que relacionava 984 ervas. Em 1057
coube a vez a Chang Yu-Shi rever Kai Pão Pen Tsao intitulando o seu
trabalho de Chia
Yu Pu Chu Pen Tsao contendo 1084
variedades de ervas. No ano 1098 d.C. um novo livro contendo 1744 tipos de
ervas e ilustrações botânicas foi escrito por Tang Shen-Wei com o título “Chin Shih Cheng Lei Chi Pen Tsao”. Durante a Dinastia Ching, 71 autores publicaram
460 volumes sobre esta matéria sendo os mais peculiares Pen Tsao Kang um Shihi do autor Xhao
Hsueh-ming, que mostrou-se tanto complicado como tedioso, sendo preferido
pelos médicos chineses na época um outro livro, Pen Tsao Pei Yao de Wang Ang.
O governo chinês
publicou um dicionário de drogas herbais chinesas abrangendo 5767 tipos de
substâncias medicinais, ainda que na realidade na prática clínica só são usadas
regularmente cerca de 300 ervas. É curioso que muitas das fórmulas utilizadas
ainda hoje são as mesmas da Dinastia Han com pequenas alterações. Estas
fórmulas magistrais encontradas nos livros em diversos idiomas são utilizadas e
estudadas em quase todos os países. No Japão, desde 1950 que o Ministro da
Saúde Japonês reconhece 148 dessas fórmulas como de utilidade pública.
Para se fazer
uma fórmula fitoterápica chinesa, é preciso conhecer-se as capacidades
energéticas, curativas e sinérgicas das ervas, ou seja, a interação de uma
planta com as outras. Na formulação Chinesa existe uma erva Imperador, que vai determinar a ação da fórmula, as ervas Ministros, que ajudam a pontencializar a ação do Imperador,
as ervas Assistentes que são necessárias para o bem-estar da pessoa e
cuidam do estômago para que este receba a fórmula, e por fim as ervas Mensageiras que levam as ervas para o local necessário.
Ao contrário da
Medicina Ocidental a Medicina Chinesa – é uma ciência fundada sobre a
experiência empírica acumulada, divide os medicamentos de acordo com as suas
propriedades e ações.
Propriedades das
plantas (medicamentos)
As plantas podem
ser classificadas:
- segundo as
suas propriedades térmicas: quentes, mornas, frescas e frias, podendo ainda
falar-se de uma quinta propriedade, a neutra.
- segundo os
cinco sabores: azedo (ácido), amargo, doce, picante e salgado, teoria elaborada
por Chou Li em 770-476 a.C.
- segundo as
quatro direções: ascendente, descendente, circulante (flutuante) e submersão.
Sistema de classificação geralmente atribuído a Li Tung 1180-1251 d.C.
As ervas com
propriedades mornas ou quentes são Yang em natureza.
Elas dispersam o vento e o frio interno, aquecem o Baço e o Estômago,
reabastecem o Yang, também possuem ações estimulantes e fortalecedoras, ervas
dessa natureza incluem o acônito, gengibre seco, canela e tratam várias doenças
do frio.
As drogas com
propriedades frescas ou frias tais como: coptis, scutellaria, gypsum e gardénia
são Yin em natureza.
Elas removem o calor, aliviam a inflamação patogénica, acalmam os nervos devido
à sua acção inibitória, servindo também como antibióticos, sedativos e
antiflogisticos para doenças febris.
Devido á
variação na constituição corpórea, a circulação do Qi
(energia), sangue e meridianos, assim como as manifestações
externas da doença, as ervas com a mesma classificação com frequência diferem
nos seus efeitos terapêuticos. Cada um dos 5 sabores, determinados a partir de
experiências a longo prazo, tem as suas próprias funções específicas. Geralmente as plantas de sabor picante exercem
efeitos de dispersão e promoção; as de sabor doce de tonificação e regulação;
as de sabor amargo efeitos fortalecedores e purgantes; as de sabor azedo
efeitos adstringentes e as de sabor salgado efeitos suavizantes e purgantes. As
ervas picantes como gengibre fresco, perilla e menta dispersam os patógenos
externos.
As ervas doces são
tónicas e lenitivas; o ginseng nutre o Qi e o alcaçus alivia a dor. As ervas
amargas tais como coptis e melão amargo têm a ação de secar a humidade e são
purgantes. As ervas azedas amolecem, fortificam e humedecem. As algas marinhas
tratam flegma estagnado e escrófula. Ervas suaves, sem sabor, tais como Hoelen
e Akebia, são diuréticas.
Ascendência,
descendência, circulação e submersão representam outras quatro qualidades
adicionais usadas para classificar as plantas (ervas).
Ascendentes e
circulantes referem-se a drogas que têm um efeito para cima e para fora, usadas
para ativar o Yang, induzir á transpiração e dispersar o frio e o vento. Em
contraste, drogas descendentes e de submersão, possuem um efeito para baixo e
para dentro – elas tranquilizam, causam contração, aliviam tosse, interrompem a
êmese e promovem a diurese e purgação.
Como uma das
teorias fundamentais na Medicina Herbária Chinesa,
as quatro direcções relacionam-se aos diferentes estados de doença no organismo
humano. Assim as plantas mornas, quentes, picantes e doces são classificadas
como ascendentes e circulantes por natureza, enquanto as frias, frescas,
azedas, amargas e salgadas têm ações descendentes e de submersão. As ervas
suaves e leves tais como flores e folhas normalmente possuem qualidades
ascendentes e circulantes enquanto as ervas túrbidas e pesadas tais como
sementes e frutos possuem efeitos descendentes e de submersão.
O especialista
em fitoterapia chinesa pode mudar as características de uma droga
processando-a ou formulando-a de maneira que se ajuste ás necessidades da
doença. As ervas cozidas numa solução salgada ou vinagre torna-se descendente
ou de submersão. As ervas cozidas em vinho ou com gengibre tornam-se
ascendentes e circulantes nas suas características. Na Medicina Chinesa, a ação farmacológica da combinação de mais de
duas ervas é chamada de “os sete efeitos das
drogas”. Após séculos de uso empírico de remédios
herbários, os médicos chineses descobriram que os efeitos de ervas isoladas
mudam de acordo com o ambiente herbário. Algumas combinações intensificam uma
ação enquanto que outros tornam-se tóxicas ou reduzem a efetividade.
Esses efeitos
farmacológicos de uma combinação herbária são difíceis de analisar porque a
fórmula pode consistir de qualquer parte de quatro a doze ervas individuais que
interagem entre si, ocorrendo três tipos de interacções.
- Entre as ervas
individuais.
- Entre os
constituintes das ervas individuais.
- Entre os
constituintes de ervas diferentes.
Os efeitos
farmacológicos das combinações herbárias sobre o organismo humano provaram-se
muitos complexos. Isto demonstra que a fitoterapia chinesa
na sua complexidade provou a sua eficiência no decorrer dos séculos, assim como
na atualidade.
Marcadores:
Medicina Chinesa
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